Apresentação: Sem blá-blá-blá nem mi-mi-mi e, principalmente, sem promessas, pois compreendo que não existe garantia para nada na vida , o Escritor Efetivo é um Programa de Qualificação voltado para Escritores Iniciantes, com ou sem originais prontos, que nunca tenham lançado um Livro ou que caíram na conversa de algum espertalhão e perderam dinheiro e credibilidade lançando um Livro "de qualquer jeito". O Propósito do PEE - Programa Escritor Efetivo é a "Efetividade" desde o primeiro passo e está direcionado para a Autopublicação ... Como "Efetivo", preconizamos o Escritor certo, escrevendo o Texto certo, no Gênero certo, da Maneira certa, no Tempo certo e com Qualidade certa para o Leitor certo... Aqui a Qualidade é vista, pela ótica do TQC - Controle de Qualidade Total , aplicado ao Mercado Literário , como um elemento composto de 5 Dimensões : Qualidade Intrínseca: do Produto (Livro), considerando o trinômio Conteúdo (Quem, O Que, Com Quem...
Wirveng Nathan: Arte, Memória e Resistência
Por Vital Sousa, Escritor e Consultor Editorial
Apresentar um artista em processo de criação de si mesmo é uma tarefa que exige certa dose de coragem e toques de loucura: algo que me é familiar. Comecei a escrever aos dez anos, fascinado pela visão de mundos das imagens e ilustrações de livros e revistas que me chegavam às mãos e eram devorados por minha mente sequiosa. Ganhei, assim, a fama de garoto estranho, para a maioria, e de louco para os menos condescendentes. Por isso, sinto-me à vontade, como quem conversa no terreiro, sob a sombra de uma árvore, para mergulhar no passado e nas pinturas de Wirveng Nathan.
Garoto quilombola do Mundo Novo, em Buíque (PE), Nathan tem apenas alguns anos a mais que eu tinha quando descobri meu caminho pelas palavras. Ele revela um talento singular ao transformar memórias e vivências em pintura. Já com postura de gente grande, conta que começou a desenhar aos quatro anos de idade. Isso, em parte, explica sua precoce maturidade artística. Hoje, ao abrir suas asas sobre as telas, expressa seu cotidiano movido por “sentimentos de resistência e de luta”. Essa frase, por si só, é um manifesto: a pedra fundamental de sua vida e de sua obra.
As pinturas de Wirveng Nathan, Wirveng como assina suas telas, dialogam naturalmente com a Arte Naïf, produzida por autodidatas sem formação acadêmica, marcada pela espontaneidade, originalidade e liberdade expressiva. Suas obras figurativas e narrativas, de cores vibrantes e cenários detalhados, refletem um universo pessoal e instintivo, repleto de alegria, memória e pertencimento.
Em suas telas, há uma força expressiva genuína e rara, sobretudo em artistas autodidatas em processo de afirmação identitária e estética. Wirveng demonstra domínio intuitivo da composição, do equilíbrio cromático e uma sensibilidade empírica para o poder da cor e da forma na construção da identidade.
~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~
~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~
Identidade e Território no Olhar Autodidata Quilombola
Por Tonny Aguiar, Escritor e Galerista
As pinturas deste jovem artista quilombola revelam um gesto de afirmação e pertencimento. São obras que nascem do chão onde ele pisa, do ar que respira e das memórias que o formam. Ao pintar, ele não busca imitar o mundo: busca reconhecê-lo em si mesmo.
Em sua trajetória autodidata, a arte surge como instrumento de libertação e narrativa do que os livros raramente contam: o cotidiano, o afeto, a força e a beleza da vida quilombola. Seu olhar é direto e carregado de uma expressividade intuitiva que dialoga com o universo de artistas populares como Heitor dos Prazeres, Djanira da Motta e Silva e José Antônio da Silva. Assim como eles, Wirveng se vale da cor, da forma e da simplicidade para comunicar mundos complexos.
A pintura “Retrato feminino com turbante” emerge como ícone de ancestralidade. A mulher negra, altiva, adornada com turbante e brinco colorido, olha o horizonte com serenidade e força. O fundo neutro confere destaque à figura e a consagra como símbolo de resistência e beleza afro-brasileira. O contorno firme e as cores vibrantes revelam segurança e identidade: é o retrato de uma memória coletiva.
Na obra, “Casa e árvore diante das montanhas”, a casa e a paisagem tornam-se extensões do corpo e da memória. As montanhas, o céu e o sol formam um espaço afetivo onde o olhar do artista busca abrigo e reconhecimento. O verde e o azul sugerem calma; a árvore seca, ao centro, evoca passagem, tempo e resistência, temas profundos da vivência quilombola. Tudo é simples, mas nada é ingênuo: o gesto pictórico traduz o equilíbrio entre o vivido e o sonhado.
Essas telas marcam o início de um caminho. São registros de um olhar que se constrói entre tradição e futuro, aprendizado empírico e sensibilidade poética. O território deixa de ser apenas espaço geográfico para tornar-se lugar de fala e criação.
Wirveng Nathan se revela autodidata, mas guiado por uma herança coletiva. Sua arte é espelho e voz. Uma forma de existir no mundo com cor, coragem e verdade.
Retrato feminino com turbante
Essa obra chama a atenção e evidencia síntese, firmeza de traço e consciência simbólica. A figura feminina, de perfil, me faz lembrar de figuras importantes do Quilombo Mundo Novo e é tratada com respeito e solenidade, remetendo a uma ancestralidade forte e silenciosa. O uso do plano de fundo neutro valoriza a personagem e acentua a cor da pele, o olhar expressivo, os lábios e o turbante.
A tela faz lembrar de pinturas com influência da estética afro-brasileira contemporânea, próxima ao trabalho de Heitor dos Prazeres, considerando a simplicidade das linhas e a frontalidade, assim como a expressividade icônica de Carybé, embora reinterpretada com uma voz própria e ainda imatura.
O traço preto que contorna a figura, um recurso muito utilizado por artistas populares, traz à lembrança a linguagem de Antônio Poteiro, que também valorizava o contorno e a forma simbólica sobre o realismo anatômico.
A tela demonstra um bom domínio intuitivo de composição e equilíbrio cromático. O artista já compreende, de maneira empírica, o poder da cor e da forma na construção de identidade.
Casa e árvore diante das montanhas
Nesta Obra, Wirveng se volta à memória e ao pertencimento territorial. O tema da casa, da paisagem rural e da natureza é comum em autodidatas que pintam o próprio entorno. Nos remete a José Antônio da Silva, Mestre Vitalino, numa linguagem tridimensional, e Raimundo Cela.
O uso do verde e do azul indica busca de serenidade e perspectiva, enquanto a árvore sem folhas e o telhado em tons terrosos criam contrastes emocionais. O sol alaranjado e as montanhas dão profundidade. Mesmo com a técnica, ainda, em desenvolvimento, Wirveng consegue demonstrar a sua intenção em pinceladas instintivas.
Há uma poética da simplicidade: o desenho não busca precisão, mas emoção. Isso aproxima o artista de nomes como Darcy Penteado e Djanira da Motta e Silva, todos autodidatas que encontraram no cotidiano popular e na memória afetiva o eixo de sua arte.
Nessa Obra a composição é bem distribuída, uso equilibrado de cor e espaço. Demonstra sensibilidade para perspectiva atmosférica e simbolismo.
Em ambos os trabalhos há um elo entre identidade, memória e resistência, traço marcante na arte quilombola contemporânea. Assim como Heitor dos Prazeres, Djanira e José Antônio da Silva, o jovem artista Wirveng Nathan demonstra:
- Autonomia Estilística Intuitiva no traço seguro e composição simbólica;
- Uso Expressivo da Cor como linguagem emocional
- Temática de Origem na ancestralidade, lugar de fala e território;
- Busca por Reconhecimento através da representação do próprio lugar de fala e pertencimento.
Esses elementos são os mesmos que levaram autodidatas de origem popular ao reconhecimento nacional e internacional, quando conseguiram consolidar uma identidade plástica coerente com suas raízes.
Serviço:
No dia 16-Out-2025, Wirveng estará participando de sua Primeira Exposição Coletiva, dentro da FELIS - Feira Literária do Sertão, em Arcoverde (PE).
.jpeg)

.jpeg)